Guillermo Del Toro se junta à Sally Hawkins e cria uma história feita para fazer rir e emocionar em A Forma da Água.

Esqueça a pirotecnia de Hollywood, suas capas esvoaçantes e prepare-se para assistir a um filme que ao mesmo tempo te faz rir, ficar tenso e se emocionar.

E nem pense que esse longa vai ser algo como Hellboy (filme do mesmo diretor). Nesse filme é mostrado como alguém pode se apaixonar não pela beleza, mas pelo que o outro demonstra por meios de suas atitudes.

1960 não foi uma época fácil paras as pessoas. Ainda mais com a disputa entre Estados Unidos e União Soviética pela corrida espacial. A tensão entre os cidadãos não ficava restrita somente às noticias sobre quem chegaria primeiro ao espaço, mas era uma época complicada para determinados seguimentos da sociedade.

Se você, caro leitor, que não sabe o que se passava naquele tempo, vou te passar um panorama rápido da situação.

Naquele tempo a sociedade seguia muito um padrão de que ricos não se misturavam com pobres, alguns estabelecimentos não permitiam a entrada de pessoas negras, mulheres deveriam só tomar conta da casa e dos filhos e não lhes era dada o direito de questionar nada e homossexuais deveriam esconder sua preferência para que não sofressem também com a fúria da elite.

E é nesse contexto que Del Toro insere a personagem principal: Eliza Esposito (Sally Hawkins).

Uma mulher franzina, meiga, carismática, apaixonada pela vida e o mais surpreendente: muda. Surpreendente pelo fato dela ser a protagonista e só se comunicar através de libras (a linguagem utilizada pelas pessoas surdas e mudas). Mas calma, você entenderá muito bem o que ela diz, pois o elenco e algumas situações estão ali para ajudar na compreensão.

Acredito que a ausência de fala da atriz seja uma alegoria com a situação das mulheres da época “não possuírem voz” nas decisões e ela ter que se esforçar muito mais do que os outros para que suas ações sejam compreendidas. Isso foi brilhantemente interpretado por Sally.

Eliza teria tudo para viver sua vida básica de uma maneira, quase, bem tranquila. Ela trabalha na equipe de limpeza em uma base militar. A sua rotina de chegar, marcar o ponto e “bater papo” com sua melhor amiga Zelda (Octavia Spencer) é mudada quando algo estranho chega ao estabelecimento.

Um acidente leva a personagem a descobrir não só o que foi levado para aquela base, mas também a buscar a força dentro de si para mudar não só o seu destino, mas o do estranho ser.

Logo de cara Guillermo já sinaliza que este será um conto de fadas com alguns pontos eróticos.

Pode parecer um pouco chocante que, logo de início, a personagem já seja mostrada em um momento mais íntimo, mas é interessante, pois mostra o lado comum de todos nós, seja você quem for. Mais do que um gênero, ela é um ser humano que ri, chora, sente e tem suas necessidades. Com isso ela ganha nossa simpatia, por mostrar o lado humano em sua mais frágil forma.

Sua companheira e “tradutora” Zelda, tem o papel de tentar mantê-la na linha, pois Esposito mostra-se um pouco rebelde para os padrões da época. Octavia Spencer, quem a interpreta, mais uma vez dá um show com seu talento e garante a sua terceira indicação ao Oscar.

O longa conta também com a participação de Richard Jenkins (Giles) no papel do vizinho amigo, confidente e parceiro nas horas de assistirem aos clássicos da época. Ele também tem a missão de ser a consciência de Eliza e mostrar como a tecnologia foi substituindo algumas profissões.

Michael Shannon se tornou o vilão preferido de Hollywood. Depois de encarnar um vingativo General Zod em O Homem de Aço, ele interpreta Richard Strickland, um agente perverso e abusivo. Mesmo com toda maldade que ele cria durante o filme, dá para se criar um sentimento pelo personagem, nem que seja pra que ele seja punido da pior forma. Ao contrário da personagem principal, que não emite sons, ele fala muitas coisas abomináveis e torna-se o porta voz do machismo, intolerância e abusos que eram tolerados naquela época.

A criatura, que mais parece o personagem Abe Sapien de Hellboy, é mais uma alegoria para a ruptura, pela personagem, dos padrões impostos pela sociedade e por ela se apaixonar pelo que, para muitos, seria proibido pelo senso comum.

O filme é muito bem conduzido por Del Toro e pelo que pude perceber ele aproveita cada minuto, sem desperdício, para contar essa bela história de um ser humano que se apaixona por algo desconhecido. Além disso, o diretor também insere questões como o assédio, opressão, discriminação e a “voz” que não se pode calar diante aos abusos.

Esse ano o Oscar vai ser muito interessante, pois, além de A Forma da Água, os concorrentes são muito bons, mas ver esse conto de fadas com erotismo ganhar a estatueta seria uma grande surpresa.

A Forma da Água (The Shape of Water, 2017) tem direção de Guillermo Del Toro, elenco formado por Sally Hawkins, Michael Shannon, Richard Jenkins, Octavia Spencer, Michael Stuhlbarg, Doug Jones, David Hewlett, Nick Searcy, Stewart Arnott, Nigel Bennett, Lauren Lee Smith, Martin Roach, Allegra Fulton, John Kapelos, Morgan Kelly e estreia dia 1 de fevereiro de 2018, no Brasil.

Confira o Trailer:

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