Crítica de – Thiago Cunha

Se durante os anos 2000 a Disney passou por graves problemas financeiros, é improvável que isso volte a acontecer no final da década atual. Com um faturamento médio de $ 7 bilhões ao ano nos últimos cinco anos, a empresa demonstrou sua força ao comprar empresas de grande nome como Fox, Marvel e até mesmo a Lucasfilm.

                Com isso, era de se esperar que, antes mesmo da virada da década, eles trouxessem a público a sequência de um dos filmes mais bem avaliados e rentáveis da história. Frozen, uma aventura congelante, foi lançado originalmente em 27 de novembro de 2013 e foi um sucesso de público e crítica, tornando-se a primeira animação da Walt Disney Animation Studios a vencer o prêmio de Melhor Animação, além do já esperado prêmio de melhor canção original por “Let it Go” e vencendo outros prêmios, como BAFTA e Choice Awards. Além disso, a trilha sonora do filme ficou no topo da Billboard, principal parada musical dos Estados Unidos, por aproximadamente 13 semanas. Atualmente, o primeiro filme da franquia é a animação mais lucrativa da história do cinema, superando o seu antecessor, O Rei Leão (1994).

                Com a promessa de ser a última animação do estúdio a receber uma sequência nos próximos anos, Frozen II dá continuidade à história apresentada no primeiro filme. No fictício reino de Arendelle, a rainha Elsa vive em harmonia com seus súditos assim como com sua irmã Anna e amigos, dessa vez tendo total controle de seus poderes de gelo que causaram tantos problemas anteriormente.

                No entanto, durante a organização de um evento para todo público, Elsa passa a escutar uma voz que apenas ela consegue ouvir e que parece querer chamar a sua atenção. Durante um jogo de adivinhações, mostrado no último teaser/trailer, a rainha resolve entender o que a chama e, após o número musical de “Into the Unknown” (Minha Intuição, na trilha nacional), libera uma força desconhecida, trazendo perigo ao reino e a sua população. Nesse momento, Elsa, Anna e todos os demais personagens partem em uma nova aventura a fim de trazer paz à Arendelle.

                A diferença de lançamento entre um filme para o outro foi de seis anos, mas a evolução gráfica parece ter mais de vinte anos. Deixando de lado as cores frias e o inverno causado durante a descontrole de Elsa, Frozen II se passa durante o outono, trazendo um mix de cores quentes como laranja, vermelho e marrom em paisagens extremamente realistas, capazes de causar deleite aos olhos dos telespectadores. As cenas de ação também são espetaculares.

                A beleza e cuidado com os figurinos dos personagens merecem destaque positivo por seus mínimos detalhes. Provavelmente, isso deve causar pânico às mães de crianças que costumam comprar fantasias das princesas (a personagem Elsa, sozinha, veste mais de quatro figurinos diferentes ao longo dos quase 100 minutos de filme).

                Se o primeiro longa trazia uma clássica história de princesa, amor e toda a fórmula comum às animações do passado, o segundo se aventura em uma história corajosa, incomum e necessária para os dias de hoje, tal qual ocorreu com Toy Story 4. A princesa Anna já não é a mesma menina ingênua e extremamente romântica que conhecemos. Após ter seu coração quebrado por Hans e virado uma estátua de gelo, a personagem parece estar mais preocupada em recuperar o tempo que passou afastada da irmã após o incidente que viveram na infância e tentar ao máximo ficar ao seu lado. Grande parte de seus diálogos giram em torno dessa motivação e é de grande importância para o caminho de sua história. Anna também está mais corajosa e determinada. 

                Fabio Porchat volta à dublagem com o boneco de neve Olaf, que passa a representar a fase da nossa infância em que aprendemos a ler e com isso buscamos conhecimento, ao mesmo tempo que pensamos ser vital compartilhar aquilo que absorvemos em nossos estudos e temos, aparentemente, resposta para tudo. Ele também se mostra ansioso para crescer e saber como lidar com sentimentos e situações.  Ele ganhou, novamente, uma música que explica satisfatoriamente sua nova história. No original, ele é dublado pelo ator Josh Gad de “A Bela e a Fera”

                Dentre os principais, Kristoff parece ter recebido menos atenção em seu desenvolvimento pessoal. Decidido a pedir Anna em casamento, ele se mostra uma pessoa bastante atrapalhada e, ao lado da rena Sven, consegue garantir muitas risadas. O momento auge do personagem é seu número musical “lost in the woods” (não sei onde estou, na dublagem), que aposta em uma pegada brega e clichê tão comuns em videoclipes das décadas de 80 e 90. Junto com Olaf, eles não acrescentam muito à história central e servem de apoio às personagens femininas e como alívio cômico.

                Em contrapartida, Elsa foi quem mais evoluiu ao longo do filme. Devido à situação de quase morte de sua irmã durante a infância, a personagem tenta ao máximo reprimir os seus poderes e não consegue controlá-los no longa antecessor. Na sequência, ela está mais à vontade com eles, conseguindo controlá-los e utilizá-los a seu favor a todo o momento e capaz de criar formas nunca vistas. Aqui, a personagem passa para um outro patamar, deixando de lado a princesa para assumir o papel de super-heroína, podendo, inclusive, juntar-se a tantos outros personagens presentes em filmes da Marvel. No entanto, o conforto com os poderes de gelo não é suficiente para que ela se sinta completa e pertencente ao lugar que lhe foi dado. O anseio pela descoberta sobre a origem deles serve de motivação para que a rainha siga a voz que vem lhe atormentando.

                Novos personagens são apresentados; alguns mal explorados e com pouco propósito. Enquanto a fofa salamandra de fogo foi criada com a explícita intenção de vender novos materiais de merchandising (pelúcias, brinquedos, Funko), o cavalo de água Nokk se destaca por sua forte presença, design impecável e por suas cenas de tirar o fôlego, literalmente, ao lado de Elsa.

                A tribo Northuldra cumpre o mesmo papel designado aos Trolls no filme anterior e serve como inclusão de mais personagens não-caucasianos à trama. O premiado ator Sterling K Brown, conhecido por interpretar o personagem Randall em This Is Us, dá a voz a Mattias, um tenente de Arendelle que possui grande lealdade ao reino.

                No quesito roteiro, o filme cumpre aquilo que promete e fecha a franquia de maneira redonda. Porém, o excesso de explicações e nomes complicados podem ser um problema para o público infantil. Há também um momento Deus ex machina, no qual os roteiristas trazem uma explicação inesperada e uma percepção ainda mais inusitada. Percebe-se que houve pressa do estúdio para entregar o filme o mais rápido o possível, fazendo com que a história aparente estar mais corrida do que deveria. Ainda assim, isso não deve estragar a experiência dos expectadores.

                Como de costume, temos a presença de vários easter eggs da Disney Company. Um deles já na primeira cena do filme.

                O filme possui vários números musicais e provavelmente repetirá o sucesso instantâneo de let it go” e “Do you wanna build a snowman”. Na semana de 09 de dezembro, a trilha sonora conquistou o 1º lugar na lista dos álbuns mais vendidos na semana pela Billboard, mesmo estreando fora do top 15. A atual carro chefe da animação é a canção “Into the Unknown”, na voz de Idina Menzel (dubladora da personagem Elsa), em parceria com a cantora norueguesa Aurora. A Disney também liberou uma versão inusitada cantada pela banda de rock alternativo Panic! At The Disco, que conta atualmente com mais de 12 milhões reproduções no YouTube. Visualmente, todos os números musicais foram bem trabalhados e se conectam bem com as situações vividas pelos personagens, em especial o solo da princesa Anna, na voz de Kristen Bell (Veronica Mars, The Good Place), que aposta em um tom sombrio, flertando com a depressão, doença tão falada nos últimos anos.

Trailer DUBLADO

                Aqui no Brasil, o filme será lançado em 02 de janeiro de 2020, exatos 6 anos após o lançamento de seu antecessor e já possui a 3ª melhor abertura de animação, com U$ 130.263 arrecadados no primeiro fim de semana de estreia na América do Norte, ficando atrás de seus companheiros Procurando Dory e Os Incríveis 2 (que arrecadaram U$ 135 e U$ 182, respectivamente), além de ter quebrado recordes de bilheteria durante o final de semana de Ação de Graças.Frozen II promete divertir e emocionar, trazendo valiosas lições para os públicos infantil e adulto e não há dúvidas que será convertido em um novo sucesso para a Disney Animation Studios, com presença e vitória certa em categorias do Oscar de 2020. O roteiro e história corridas são compensados com cenas incrivelmente bem feitas e o carisma dos personagens que já nos conquistaram durante a primeira história.  

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