Por: Viviane Rodrigues | @veeveeane

Jogos Mortais (Saw) é uma franquia de peso no meio do terror, referência no quesito tortura juntamente com sagas como Pânico na Floresta (Wrong Turn) e O Albergue (Hostel). Os fãs do primeiro longa talvez se recordem da sensação extasiante quando o enredo é explicado, a trilha sonora arrepiante inicia, as luzes se apagam e a lição de John Kramer paira: a redenção só é possível através do sacrifício. Afinal, segundo a ideologia macabra do personagem, o que é a perda de um braço se comparada aos atos injustos ou corruptos cometidos pela vítima, necessitada de uma redenção? Seguindo seus propósitos individuais de vingança e expiação, John Kramer prendia as vítimas e entregava em suas mãos a chave da liberdade, ainda que essa chave pudesse estar dentro de um tanque de agulhas.


Em Espiral – O Legado de Jogos Mortais (2021), a fórmula base da franquia sofre algumas modificações: o terror não visa uma linha regular inquietante e tampouco foca em Jigsaw. Na realidade, a menção ao personagem é meramente explicativa para o desenrolar da história. Darren Lynn Bousman retorna à direção – após dirigir os volumes 2, 3 e 4 da franquia -, contudo, apostando nesse clima diferente, com toques de comédia e até mesmo uma visão mais política.


O spin-off segue a trajetória do detetive Ezekiel “Zeke” Banks (Chris Rock) e seu parceiro, o detetive William Schenk (Max Minghella), na caçada a um imitador de Jigsaw que assombra a cidade assassinando policiais, aparentemente seguindo um propósito macabro. Filho do policial veterano e consagrado da polícia Marcus Banks (Samuel L. Jackson), Zeke não possui a confiança dos colegas de trabalho após denunciar um antigo parceiro por conduta indevida. No entanto, tal comportamento é justamente o que atrai a atenção do imitador e o faz querer jogar um jogo.


A trama não é complexa e, a bem da verdade, a conclusão não é impossível de ser especulada bem antes do final. O spin-off possuía toda uma base prévia dos filmes da franquia para talvez desenvolver até um próprio arco, novo e instigante, mas acaba ficando no lugar comum e não explora maiores desdobramentos estimulantes para uma continuação.


Além do mais, o responsável por imitar Jigsaw pode acreditar carregar consigo seu legado, mas não é bem assim que o público se depara com os ensinamentos de Kramer. As armadilhas dos primeiros filmes foram criadas visando causar arrepios e desconforto, no mínimo. Ainda assim, há de se reconhecer que as vítimas tinham a chance de escapar, caso fizessem o sacrifício necessário proposto pelo jogo.


Já no spin-off, além de apresentar armadilhas mais fracas se comparadas às anteriores, fica dúbio se o assassino de fato deseja que as vítimas tenham uma chance de escapatória ou se apenas aplica armadilhas torturantes e punitivas para cometer assassinatos mais “criativos”. A redenção não parece ser bem o foco.

Trailer-Dublado


A atuação de Chris Rock no papel principal também é de se chamar a atenção. O ator não é conhecido por participações em filmes de terror, sendo boa parte de seu trabalho voltada para a comédia. De toda forma, ele investe seu potencial no papel do protagonista, que apresenta problemas com seus colegas policiais, uma relação tumultuada com o próprio pai, oscilações de humor ao longo da trama e pouca exploração interna do personagem – algo que fica mais na conta do roteiro em si do que na atuação de Rock. Em alguns momentos, o personagem se perde dentro de sua forma desconexa, até mesmo forçada, de lidar com ser um bom ou mau policial. Porém, dada a entrega de Chris Rock ao papel e a iniciativa de adentrar outro gênero cinematográfico, esse detalhe não se torna gritante.


Os fãs da energia original de Jogos Mortais podem se ver contemplados em nostalgia com referências aos primeiros filmes em Espiral – O Legado de Jogos Mortais, mas não devem esperar que a energia se faça presente do começo ao fim, porque não é assim. Espiral propõe um assassino com mais sede de vingança, reproduzindo a herança sangrenta em uma escala maior, ainda que individualista e rasa. Pode agradar aos fãs gerais de terror, mas talvez não impressione tanto os fãs originais da franquia.

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