Um Lugar Silencioso – Parte 2 (A Quiet Place – Part II) é uma grata surpresa que foi aguardada e adiada por muitos meses. Continuação direta do filme de 2018, o longa-metragem chega para desmistificar a máxima de que sequências nunca têm a mesma qualidade que o filme original.

O filme, logo no início, se vincula ao primeiro através de alguns “easter eggs” ou, melhor dizendo, cenas que remetem aos mais impactantes momentos da obra original.
São referências incluídas no roteiro com extrema inteligência e ajudam a impactar emocionalmente os espectadores; cenas que remetem aos mais terríveis e emocionantes momentos de Um Lugar Silencioso. Afinal, essa segunda parte inicia com os acontecimentos que antecederam a tragédia no planeta. E sabem o que é mais interessante? O fato de você, espectador, saber o que ocorreu não diminui em 1% o impacto do que acontece no começo dessa trama. Preparem-se para uma agonia tão intensa quanto a vista no primeiro filme.

Agora, antes de dar sequência ao review, assistam ao trailer. Um dos maiores acertos da Paramount foi não ter divulgado o suficiente para que os teóricos da web fizessem as famosas “hipóteses” com base no trailer. O que verão é, sinceramente, uma parcela ínfima do suspense e agonia presentes na história.

Dando seguimento ao review, nos encontramos no exato ponto em que finalizou o longa anterior. É possível sentir a dor da família e os efeitos que a vida silenciosa trouxe a eles. Mas os tempos duros criam um povo mais rígido, fato comprovado ao longo da História. Essa rigidez é um divisor de águas entre sobreviver ou morrer.

Bem, devo presumir que se você está lendo esse review provavelmente também viu o primeiro longa-metragem. Caso não tenha visto, alerto que as obras são intrinsicamente ligadas.

Também devo presumir que se está lendo meu review… não, não posso presumir. Mas se você não leu meu review sobre o primeiro Um Lugar Silencioso, basta clicar no link. As informações lá presentes são muito interessantes.

Caçados.

Não há como fugir. Mesmo cientes da fraqueza dos invasores alienígenas, o fato é que não há recursos suficientes para destruí-los. Diante da fragilidade do corpo humano e da escassez de recursos provocada pela destruição alienígena, a verdade é que as chances de sobrevivência só diminuem, mesmo para os integrantes da família Abbott.

Assim sendo, frente ao inevitável, o que resta é a luta. Cada dia vivido é um dia a ser comemorado. Entretanto, cada novo dia é mais uma chance cedida ao inimigo para que sejam encontrados, feridos ou mortos.

O inferno não tem gritos. Ele é silencioso.

Esperança.

O primeiro longa mostrou a luta contra os monstros de uma forma quase visceral. Com técnicas teatrais, enquadramentos diversificados e uma trama irretocável, o filme nos conduziu por todo o sofrimento de estar em um campo de concentração aberto. Sim, a vida dos Abbott não era muito diferente da vida dos prisioneiros de um Gulag ou de campos nazistas. Eles, tal qual os prisioneiros de outrora, sabem que a morte está sempre por perto.

Contudo, assim como os antigos prisioneiros fadados à morte, nada pode aplacar a chama da esperança. Os Abbott sofreram terríveis perdas e estão diante de um quadro novo onde as decisões podem significar viver ou morrer. A maturidade das crianças foi acelerada por causa da necessidade de sobrevivência e do medo, sobretudo Regan (Millicent Simmonds), a jovem surda que descobriu o único ponto fraco dos alienígenas. Regan ganha importância ainda maior ao assumir uma parte da responsabilidade sobre a sobrevivência de sua família.

Humanidade despedaçada.

Filmes onde há uma desestruturação da sociedade (seja por guerra, doenças ou outro motivo) mostram que nossa civilização e tudo que está relacionado a ser civilizado rui com grande velocidade. Compaixão, auxílio mútuo, amizade, respeito… nada disso se sustenta por muito tempo quando uma tragédia se abate sobre a população e as necessidades básicas são privadas.

Mad Max, O Livro de Eli, Eu sou a Lenda, Guerra dos Mundos, Matrix, Army of the Dead: Invasão em Las Vegas e muitos outros filmes exibem com propriedade a teoria de que nossa sociedade não se sustenta por muito tempo diante das desgraças. Essa teoria, vale acrescentar, já foi comprovada em várias situações reais pelo mundo.

Para ser mais sincero, creio que não é sequer preciso uma guerra ou algo similar para que vejamos o pior da humanidade. Os lockdowns recentes por causa da pandemia mostraram o quanto o homem pode ser ruim: saques, depredações, roubos e até subornos para tomar uma vacina são pequenas amostras do nível de decadência a que podemos chegar. Esta mesma decadência está muito bem representada no filme.

Intercalando ações.

Essa é uma técnica que deixa o público em verdadeiro desespero: intercalar cenas onde ações com personagens diferentes acontecem. O silêncio (parcial, pois há uma trilha sonora que amplia o nervosismo) faz com que achemos que uma morte, acidente, ataque ou seja lá qual for a desgraça acontecerá a qualquer segundo.

John Krasinski criou um plano sequência “colcha de retalhos”, onde a ação é dividida em três cenas distintas que são intercaladas entre si. Fica na mente do espectador a impressão de que algo ruim, muito ruim, acontecerá a qualquer segundo.

Caso estejam lembrados do primeiro filme, certamente ainda têm fixada na memória a cena do prego. Bem, podem acreditar quando eu digo que ela foi apenas um aperitivo quando o assunto é suspense nesse novo longa.

Um outro detalhe que quase deixei passar: o suspense vai praticamente até o final do filme. Não há tempo para relaxar os nervos. Preparem-se para momentos de pura aflição.

Novamente: a trilha sonora é uma das mais brilhantes ferramentas para impor o medo a quem assiste ao filme. Simplesmente brilhante!

Atuações.

A direção impecável de John Krasinski só poderia trazer bons resultados, mas isso ganha muito com as interpretações fortes e convincentes do elenco. Ganham destaque Emily Blunt (de volta ao papel de Evelyn Abbott), Cillian Murphy (Emmet, uma peça-chave do longa e uma personagem nova neste universo), Noah Jupe (Marcus Abbott) e Millicent Simmonds (Reggan Abbott) cuja participação mais uma vez surpreende pela qualidade e intensidade nas interpretações. Millicente, relembro, é realmente surda, fato que levou Krasinski a escolhê-la para o papel e, assim, dar mais veracidade à atuação. É a convivência com a necessidade de comunicação com uma surda através da linguagem de sinais que trouxe maiores probabilidades de sobrevivência à família Abbott.

Os demais coadjuvantes, inclusive o conhecido Djimon Hounsou, também mostram muita dedicação aos papéis que representam e, certamente, são muito bem conduzidos por John Krasinski. Aliás, Krasinski volta a interpretar o papel do pai da família Abbott, Lee.

O fim?

Honestamente, o filme deixa algumas pontas – acredito que de forma proposital – para que cheguemos a uma provável conclusão através do terceiro longa. E o que me levou a essa dedução? Vejamos…

Uma nova fraqueza dos monstros foi mostrada. Isso pode ser fundamental para que os sobreviventes tracem uma estratégia de combate a eles. Uma estratégia com boas probabilidades de sucesso.

O crescimento de Regan (Millicent) e Marcus (Noah Jupe) é primordial para a sobrevivência da família, algo surpreendente até mesmo para a protetora Evelyn (Emily Blunt). Eles saem dos papéis de coadjuvantes, sobretudo Marcus, para ganhar maior pertinência na trama. Regan comprova o que já sabíamos: ela será fundamental para a conclusão dessa saga de horror.

Concluindo, fica fácil afirmar que valeu cada segundo de espera por Um Lugar Silencioso – Parte 2. Cenas intensas, roteiro bem amarrado, atuações impecáveis, efeitos visuais impressionantes e a retomada do suspense que vimos no já longínquo ano de 1979 com Alien, o Oitavo Passageiro, uma nítida fonte de inspiração para os monstros dessa história.

Como disse no início do post, certamente teremos um terceiro filme. E que Papai do Céu permita que ele chegue o mais rápido possível…

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