Em 2016, depois de cinco anos sem novos longas da franquia Harry Potter, Animais Fantásticos e Onde Habitam iniciou uma nova etapa do mundo bruxo nos cinemas. Acompanhando o magizoologista Newt Scamander (Eddie Redmayne) em sua viagem aos Estados Unidos, J.K. Rowling amplia as fronteiras de sua criação, além de apresentar a base de sua nova série de filmes. Os Segredos de Dumbledore, terceiro filme da franquia, dá continuidade direta aos acontecimentos de Os Crimes de Grindewald.

A ideia dessa nova franquia é acompanhar a jornada por trás da ascensão de Gerard Grindewald, considerado o bruxo das trevas mais poderoso e perigoso de todos os tempos, ficando atrás apenas de Voldemort, o famoso personagem interpretado por Ralph Fiennes desde “Harry Potter e o Cálice de Fogo”. Muito além de uma expansão do universo mágico, as duas histórias se entrelaçam através da varinha das varinhas, artefato mágico que foi buscado durante anos por Voldermort e que há anos era empunhada por Alvo Dumbledore.

Ainda que tenha conseguido ampliar as fronteiras do universo bruxo e dado seu próprio tom em Animais Fantásticos e Onde Habitam, J.K Rowling, que além de criadora é roteirista nesse novo projeto, parece ter mergulhado na nostalgia de sua própria história, mal desenvolvendo a franquia. É a partir do segundo filme que o próprio Dumbledore (Jude Law) se torna personagem recorrente e importante figura na batalha contra Grindewald.

Assim como acontece em Os Crimes de Grindewald, o maior pecado do terceiro filme é sugerir que, ao colocar o nome de um dos personagens mais conhecidos e amados da franquia como complemento do título Animais Fantásticos, os fãs teriam acesso a seus segredos mais sombrios e escusos. Infelizmente a promessa não se cumpre ao longo dos 143 minutos de duração.

Os Segredos de Dumbledore dá continuidade às histórias de seu antecessor. Depois de ver de perto as consequências do poder de oratória de seu rival, Alvo Dumbledore inicia um plano para deter o avanço de Grindewald que passa a ser interpretado por Mads Mikkelsen, após desligamento do ator Johnny Depp. Diante do pacto mágico feito com o vilão em sua adolescência, Dumbledore não pode enfrentá-lo diretamente, e para isso, passa a contar com o auxílio de personagens já apresentados como Newt, Teseu (Callum Turner), Jacob (Dan Fogler), Bunty (Victoria Yeates), além de novos personagens como a professora Lallie Hicks (Jessica Williams), que se destaca por ser a primeira personagem preta da franquia com mais tempo de tela.  

Diferente de seu antecessor, o Grindewald, apresentado por Mikkelsen é bem menos afetado, contido e intimamente mais perigoso, quase como a personalidade de Hannibal Lecter, assassino interpretado pelo ator durante vários anos. Ainda que Depp tenha feito um bom trabalho no segundo filme, o personagem agora tem um ar instigante e sedutor. Sedução essa que explica a atração de Dumbledore por seu antagonista. A relação dos dois é um ponto alto no longa, que já começa com uma tensa conversa entre os dois em um café. Veteranos, os intérpretes conseguem transparecer para o público o desconforto vivido por seus personagens, que durante anos eram grandes amigos e agora lutam em lados opostos na guerra bruxa. Esse desconforto marca a atuação de Jude Law durante todo o filme.

Altamente criticada por seu trabalho como roteirista em Animais Fantásticos e Onde Habitam e Os Crimes de Grindewald, aqui J.K Rowling divide o roteiro com Steve Kloves, responsável por seis dos sete filmes da franquia Harry Potter. Essa aquisição mostra uma evolução em comparação aos antecessores e tenta resolver as pontas soltas apresentadas anteriormente. A maior mudança percebida é a reintegração dos animais fantásticos à história, já que em Os Crimes de Grindelwald eles nada acrescentavam ao desenvolvimento do projeto. Aqui, mesmo que de maneira discreta e fora do óbvio, as criaturas mágicas ganham funções narrativas e voltam a ser o centro da história.

Durante o lançamento do primeiro filme da franquia, J.K Rowling sugeriu em sua conta pessoal do Twitter que Animais Fantásticos teriam cinco filmes e se passariam em localidades diferentes do mundo. No tweet, a autora compartilhou o número cinco em idiomas diferentes e uma delas em português. A aquisição de Maria Fernanda Cândido ao elenco sugeria fortemente que o terceiro filme se passaria no Rio de Janeiro dos anos 20, mas a pandemia de Covid-19 atrapalhou os planos da produção e obrigou que a história fosse retratada na Alemanha. No entanto, a presença da atriz pode servir como uma homenagem aos fãs brasileiros, um dos mais fervorosos do universo mágico.

Massacraado pelo público e crítica durante sua exibição e obtendo a nota mais baixa da franquia bruxa, Os Crimes de Grindewald deixou um gosto amargo e isso parece ter afetado o roteiro de seu sucessor, que segue um caminho seguro e pouco arriscado. Com o título de Os Segredos de Dumbledore, esperava-se que a relação do bruxo com seu antigo amigo fosse melhor abordada através de flashbacks ou por meio de diálogos expositivos do personagem. Infelizmente, isso não acontece e os tais “segredos” não surpreendem, pelo menos não aos fãs da franquia.

Com sua obra principal, J.K Rowling conseguiu de maneira espetacular criar um cenário político altamente perigoso e comparável com situações reais. Aqui, fazemos uma comparação dos acontecimentos com a Alemanha nazista e avanço do fascismo. Mas o medo de ousar no roteiro os torna rasos e sem grandes consequências. Na trama, a Ministra da Magia brasileira Vicência Santos (Maria Fernanda Cândido) disputa o título de Chefe Internacional dos Bruxos com o Ministro da Magia chinês Liu Tao (Dave Wong). No entanto, o filme não abre espaço para mostrar suas aspirações e diferenças políticas. O núcleo político, assim como muitos personagens, parece estar lá apenas para fazer a narrativa avançar.

Trailer Final LEGENDADO

Em contrapartida, as cenas de ação fazem do filme um show à parte. A evolução da tecnologia que separa o longa do primeiro Harry Potter, de 2001, escancara que com o passar dos anos, os efeitos especiais utilizados no início da saga do bruxinho podem se tornar datados. Os Segredos de Dumbledore cumpre bem o papel de consertar os problemas apresentados anteriormente, se apoia menos às muletas da nostalgia e consegue ser minimamente mais interessante que seu antecessor. Ao longo da história ele diverte, cria um cenário para o confronto final entre os rivais, mas faz isso de maneira morna. Caso outras sequências sejam realizadas pela Warner, é possível que esse cumpra o papel de O Enigma do Príncipe como o menos memorável de sua franquia.

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