Após uma fase quatro experimental, que mesclou pela primeira vez eventos ocorridos em longas e em séries de TV, a Marvel deu início à quinta fase da saga do multiverso, que se encerrará com o filme ‘Vingadores: Guerras Secretas’. Se os projetos anteriores pareciam estar desconexos e com dificuldades de trabalhar em um ambiente macro, “Homem-Formiga e a Vespa: Quantumania” prometeu moldar o que podemos esperar das próximas produções do Universo Cinematográfico Marvel, o UCM, já que finalmente seríamos expostos às ameaças do grande vilão da nova saga, o terrível Kang, O Conquistador, interpretado por Jonathan Majors, que já deu as caras como Aquele Que Permanece na primeira temporada de “Loki”.

Após os eventos de “Ultimato”, Scott Lang (Paul Rudd) está aprendendo a lidar com o status de herói associado a ele. Afinal de contas, diferente de seus colegas, o rosto por trás do traje de Homem-Formiga não sentiu a passagem de cinco anos desde o estalar de dedos do titã louco. Isso porquê o minúsculo herói esteve preso no reino quântico tentando coletar partículas quânticas enquanto Hope (Evangeline Lilly), Hank (Michael Douglas) e Janet (Michelle Pfeiffer) desaparecem, sendo resgatado mais tarde por um camundongo.

Em sua terceira aventura sob o manto do Homem-Formiga, Scott Lang encontra uma maneira de monetizar em cima de sua popularidade, fazendo participações em podcasts e divulgando sua recém-lançada autobiografia. E enquanto colhe os frutos de sua enfim bem-sucedida vida profissional, se depara com situações inesperadas envolvendo sua filha Cassie Lang (Kathryn Newton), que é mais parecida com o pai do que ele mesmo tinha noção. Ao lado de Hank Pym, a jovem inicia um experimento que emite ondas para o Reino Quântico, local já citado em histórias anteriores. É a partir daí que a história dá o seu start. 

Se em histórias anteriores o Reino Quântico foi apenas citado como objeto de estudo do Homem-Formiga original e como ferramenta na derrota de Thanos, em “Quantumania” os protagonistas são literalmente absorvidos para dentro desse universo, entregando aos expectadores um pouco de seu funcionamento, suas regras e, principalmente, seu visual, que aqui parece um mix de “Mundo Estranho”, última animação da Disney, com “Duna”. É lá que também conhecemos Kang, uma criatura de intelecto genial e que, graças a sua presença de tela, que mescla uma personalidade intimidadora, força descomunal e um carisma extraordinário, consegue monopolizar a atenção de todos sempre que está em cena. Não à toa é muito provável que o longa seja lembrado bem mais pela interpretação de Jonathan Majors do que pela aventura do quinteto protagonista.

Diferente de outros longas, a saga do Homem-Formiga possui em sua trilogia a particularidade de estar frequentemente interligada com acontecimentos futuros da Marvel, ao menos em suas cenas pós-créditos. Não coincidentemente o lançamento de “Homem-Formiga e A Vespa” aconteceu entre “Guerra Infinita” e “Ultimato”. Com essa experiência prévia, o diretor Peyton Reed consegue criar uma narrativa para os protagonistas mantendo suas características, como o timing para o humor de Paul Rudd, mesmo que esteja enfrentando um dos vilões mais poderosos de todo UCM. Com isso, é perceptível que, mesmo com alívios cômicos e comentários ácidos, “Quantumania” não faz uso exacerbado da técnica a ponto de se aproximar da cafonice. Tudo é feito em momentos pertinentes, quase como um respiro em meio à tensão da ameaça exposta por Kang.

Tão desafiador quanto iniciar a ameaça do conquistador para é realizar um filme com o protagonismo dividido por cinco e aqui, infelizmente, Reed não é tão bem-sucedido. É visível que o corte final prejudicou e muito o tempo de tela de alguns dos personagens principais, especialmente se compararmos com a imponência de Jonathan Majors ao longo dos 120 minutos. A força-motriz do longa é a relação de Scott Lang com sua filha Cassie, uma adição apática e sem sal para alguém que muito provavelmente será o rosto por trás do uniforme da personagem Estatura. E essa falta de carisma é perceptível principalmente quando a jovem atriz está em cena com seus colegas de elenco, em especial Paul Rudd, que segue mantendo os principais traços do personagem-título apresentados em sua trilogia. Se compararmos com adições recentes como  Kate Bishop de Halle Steinfeld ou a Kamala Khan de Iman Vellani, Kathryn Newton precisa trabalhar bastante sua identidade na personagem para que o público a abrace. O mesmo não pode se dizer de Evangeline Lilly, que desaparece quase que completamente do longa, muito provavelmente devido a seu posicionamento negacionista durante o período mais complexo da pandemia do Covid-19.

Michelle Pfeifer, no entanto, parece abraçar o manto da Vespa e pegar para si o protagonismo da personagem. Vale lembrar que Janet Van Dyne é a Vespa Original, mesmo que essa história não tenha sido mostrada no UCM com uma história solo. É graças ao seu conhecimento do Reino Quântico que os protagonistas conseguem avançar entre os atos do longa. Já Michael Douglas tem um tempo de tela menor que sua cônjuge, sendo marcado principalmente pelo uso da conveniência em suas ações.

“Homem-Formiga e a Vespa: Quantumania” deve dividir a opinião do público pois não é – e nem promete ser – grandioso quanto “Ultimato”, mas serve como uma bem-estruturada história de origem de um vilão grandioso, que muito provavelmente marcará as próximas produções até seu derradeiro embate com os Vingadores. Além de conseguir se encaixar em sua trilogia, cumpre a missão de lidar com as consequências vividas em outras produções, mesmo aquelas que parecem estar perdidas em sua própria narrativa sem que perder sua essência e identidade. No Brasil, o longa tem o desafio de estrear colado ao Carnaval, o que vai afastar o público das salas de cinema nos dias de folia.

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