Crítica de : José Alexandre Oliveira
A tônica era uma só e era inexplicável. Definitivamente, o que sentimos era mais profundo que tristeza. Com a ida precoce e traumática de Chadwick Boseman, em agosto de 2020, todos nós lamentamos a perda de um ator que nos deu orgulho e representou a nossa cultura de forma poderosíssima. De forma inimaginável, ao assumir o manto do Pantera, Boseman fez com que as novas gerações pudessem ter um herói preto para se espelhar e seguir com suas aventuras e seus sonhos. Foi uma entrega tamanha que, de forma alguma, aceitaríamos uma simples substituição porque, simplesmente, Chadwick Boseman era a transformação em carne e osso do personagem preto mais icônico da Marvel. Então, se Boseman subiu para o plano espiritual, tínhamos que aceitar também a ida de T’Challa e nós teríamos que viver o luto junto com a família do extraordinário ator e com o povo de Wakanda. Ryan Coogler, Kevin Feige e várias personalidades do elenco do primeiro filme se manifestaram em relação a essa possível narrativa e, nós como fãs, queríamos que a Indústria fosse mais sensível nesse ponto: a melhor homenagem e, a melhor forma, de demonstrar respeito ao legado de Boseman seria deixar o personagem acompanhá-lo no encontro com Bast.
Assim foi feito. Ao assistirmos os trailers, já tínhamos a prévia que seria difícil conter as lágrimas. Relembrar a perda tornou tudo muito latente e, até admito que não consegui ver o trailer sem me arrepiar. Afinal, é impossível ficar sem reação vendo o grafite feito com o rosto do T’Challa e a mensagem “O Rei vive e o Pantera viverá para sempre em nós”, no alfabeto baseado na escrita Nsibidi. Já tínhamos, com essa cena, a certeza que haveria tributo digno e o esperado respeito ao trabalho de Boseman. Porém, havia mais que isso. Concomitantemente, teríamos que lidar com um enredo complexo, bem costumaz no cotidiano de famílias afro: turbulentos conflitos em meio ao luto, vide as cenas que apresentavam Namor e uma possível invasão ou guerra em Wakanda. Ainda assim, nos perguntávamos se tudo que foi apresentado no trailer faria sentido sem a presença do nosso eterno T’Challa.
Eis que chega o dia das nossas respostas. A estreia de Wakanda Para Sempre é cercada de apreensão, tristeza, orgulho, saudades e até reticências… um misto de emoções, que com certeza, serão sentidas ao longo dos 161 minutos. Desde já, preparem-se, porque ninguém tem nervos frios o suficientes para não se emocionar em mais de um momento com o enredo criado, mais uma vez pela dupla Ryan Coogler e Joe Robert Cole e dirigido por Coogler. De longe, e não é nenhum exagero, o filme é o mais profundo e dramático de toda cinematografia Marvel. Já era de se esperar um bom trabalho do diretor do primeiro filme do Pantera e do já novo-clássico Creed. Mesmo assim, Coogler vai além dessas referências e consegue nos entregar um filme com atuações memoráveis, cenas épicas e mais uma história que só abrilhanta a mensagem que o filme carrega.
Com extrema facilidade, é o melhor filme da fase 4 da Marvel e já se impõe como um dos melhores da franquia. Na carreira da dupla Coogler e Cole, de longe, é, até o momento, o melhor filme que eles fizeram. Além disso, é impossível não tecer um comentário que seja sobre a atuação magistral de Angela Bassett. Aproveito o momento e aumento mais ainda o coro de que ela merece Oscar pelo trabalho feito como Vossa Majestade, Rainha Ramonda. Quanto aos outros prêmios, apostem forte nela, pois Bassett nunca atua de forma protocolar ou mediana. É nítido o brilho e a força de nossa Rainha em todas as cenas que participa. Sua altivez só corrobora com a imagem que temos das mulheres pretas e como, sem poderes algum, elas se tornam grandiosas.
Uma atriz fora de série como Bassett também permite que seus colegas, principalmente o trio Letitia Wright (Shuri), Danai Gurira (Okoye) e Lupita Nyong’o (Nakia) tenham também o seus momentos de fortes destaques. Sem dúvida alguma, Tenoch Huerta (Namor), Dominique Thorne (Riri) e Winston Duke (M’Baku) também sustentam o nível de atuação da película e trazem uma dinâmica muito consistente para o desenvolvimento da trama. Afinal, é justamente por causa dessa sinergia entre os atores que conseguimos perceber do que se trata ser wakandiano e como a união desse povo os fortalece em momentos decisivos. Aliás, poderia discorrer longamente sobre todo o elenco, mas deixo para o texto com spoilers. Podem ficar tranquilos, pois, vocês se surpreenderão até mesmo com pequenas atuações de vários coadjuvantes de luxo que aparecem ao longo do enredo.
Sendo assim, o filme respeita o nosso herói e nos presenteia com uma narrativa épica da nação e da resiliência matriarcal necessária para sustentar nosso passado e para nos projetar para um futuro.
Wakanda, definitivamente, nos ensina a seguir em frente sem medo da morte, dos nossos sentimentos e do futuro que podemos construir. E vou além, Wakanda também nos mostra que é possível fazer um filme de herói com ação, guerra, efeitos e sem receio de aprofundar aspectos dramáticos. De forma concomitante, a Marvel evolui com essa película e, mais uma vez, mostra que quer seguir com novas possibilidades narrativas. Nós vamos seguir juntos e não vejo lugar melhor que estar ao lado desses personagens. Wakanda para sempre!
Trailer DUBLADO